Os amantes - René Magritte



O último beijo foi dado assim com um tanto de sentimento que nem eles acreditavam que ainda seriam capazes desse tanto. Há tempos que o relacionamento vinha se arrastando. Ele já não se importava se ela gostaria do seu perfume e ela pouco se preocupava se o hálito estava fresco. Fizeram-se o favor de, naquele último momento, olharem-se – não no fundo dos olhos, porque isso dava repugnância em ambos – brevemente e concluírem que por ali já estava bom. Bom demais. Fizeram tudo que podiam um com o outro. Ela o usou até pelo avesso; ele a cobriu com todos os doces que tinha em mente. Saciaram-se. E o estômago de ambos já estava cheio.
Ademais, qual relacionamento iria durar tanto daquela forma? Eram apenas mais dois cidadãos do mundo, completamente entregues aos prazeres momentâneos da civilização capitalista e os tais sentimentos não eram realmente sentidos. Única real semelhança íntima entre eles era a crença que amor era um produto de mercado e com data de validade. O amor deles venceu... Então, ou acabavam por ali ou o estômago cheio de ambos colocaria tudo para fora.