Saint Mathieu et l'Ange - Rembrandt Van Rijn


Os minutos se arrastam da mesma forma como a cera derretida escorre pelo resto da vela acesa frente aos meus olhos. Noite insignificante e calor escaldante invadiram há tempos meu interior. Com a mão armada a lápis e o corpo protegido pelo papel em branco, meus olhos refletem os anseios da minha alma... Palavras que gritam para não sair. Sim, são teimosas. Não querem me expor num branco qualquer. Querem gritar para o ar, translucido e leve. Registros são intoleráveis, mas eu ainda assim não desisto: passo as noites no claro de uma vela, buscando colocar aquelas palavras interiores em qualquer papel. Pois, bem sei, que só dessa forma, escritas, fixadas, as palavras não poderão mais brincar comigo; serão minhas e não eu delas; eu as usarei para o mundo e não o contrário. O papel e o lápis são minhas armas para eu conseguir o poder, para eu me pôr no controle.
E minhas noites transcorrem-se em lutas, em batalhas de palavras indomadas dentro do meu corpo de escritor guerreiro.