Archive for junho 2014

Recomeçar



L'origine du monde - David Agenjo

Acabava seu sétimo namoro. Além do desgaste emocional, da falta que aquele companheiro faria, do processo de se desacostumar... Ela sentiu um profundo desinteresse em recomeçar. Conhecer outra pessoa, entender outros costumes, se amoldar a um novo corpo... Tudo parecia desgastante demais. E, então, desistiu. Desistindo, decidiu. Recomeçaria, mas consigo mesma. Se conheceria, descobriria seus próprios costumes, definiria seu corpo. E sem mais desgastes, pois ela não se abandonaria. E isso haveria de bastar, enfim.

Confidências


Sem título - Rob Hefferan


Trocavam confidências em silêncio. Ele a queria. Mas não podia. Ela não o queria. Mas podia. O não querer dela era superado pelo desafio de ficar com um homem proibido. O não poder dele era superado por um desejo acima do normal de possuir aquela mulher. Mas aquele misto de sentimentos, recíprocos ou não, não eram suficientes. Nem ele tinha coragem de se envolver com algo proibido. Nem ela demonstrava interesse demais, para não parecer por demais envolvida. Assim, ficavam ali, trocando confidências em silêncio. Pois era o que lhes restava.

Dona do crime perfeito


Tess II - Fabian Perez

Só tinha uma forma de liberar toda aquela energia que pulsava dentro dele. A forma era complexa, mas harmônica. Umas curvas aqui, umas entrâncias ali, um conjunto todo humano. Um todo feminino. Mas bem específico. Era uma forma que só aquela mulher tinha. Ela era dona da única forma de libertá-lo. Ela era o único remédio para aquela sua pulsação. Ou ele eliminava aquela energia louca, ou iria explodir. Explodiria e morreria. Morte matada. E ela bem sabia dessa sua exclusividade. E adorava isso. Mas não se entregaria. Queria vê-lo explodir. Queria matá-lo. E não se preocupava com isso, pois sabia que depois de morto, ninguém iria incriminá-la. Ser a única forma de prazer de um homem, e usar isso de má-fé, ainda não era criminalizado. Era o "crime perfeito". E ela era dona disso.

Carta branca



Reader, Flowers in her hair - Henri Matisse

Dobrei uma folha em branco, coloquei no envelope e enderecei para a sua casa, meu bem. Agora – enquanto a carta branca deve estar percorrendo ruas vazias e ruas movimentadas, a caminho do seu caminho – escrevo aqui essas palavras, nesse pedaço de papel de um velho diário, sem data, sem ano... Só para assegurar que, em algum breve futuro, quando eu estiver curada desse meu sofrimento, eu possa retornar a essas páginas e aqui ver escritos todos os sentimentos que eu poderia ter escrito para você. E não escrevi. Não para você. Mas os deixei registrados aqui, só para mim. Pois, meu bem, você não merece os meus sentimentos. Não por esse sofrimento todo que você me causa. O máximo que merece é uma carta branca. Repleta de um vazio similar ao que você deixou em mim.

A escritora

Evilanne Brandão de Morais. Tecnologia do Blogger.