Archive for abril 2012

Fulminante



Separation - Edvard Munch

Apego é uma coisa que aperta o coração. Amor é uma coisa que o liberta. As sístoles e diástoles do coração daquele homem eram intensas. Ele próprio, consciente do seu problema crônico, receitava sua mente a equilibrar o apego e o amor que sentia por aquela mulher. Porém, um dia fatalmente deixou-se aplacar pela desconfiança e pelo ciúme... O coração apertou forte e, como um último suspiro, afrouxou por completo. Foi de ataque fulminante que o homem deixou viúva a mulher adorada.

Feriadão


Mind Changer - Leah Saulnier


Era feriado e lá estava ele, ao vivo, apresentando o principal Jornal da cidade. Indignava-se por estar ali. Não que não gostasse do seu trabalho. Na verdade, sempre sonhara ser jornalista. A indignação era devido às notícias que anunciaria: pessoa morre na fila de hospital público, porque o médico plantonista aderiu ao feriado nacional; governador é fotografado em praia paradisíaca, descansando no "feriadão"; escolas "enforcam" a semana inteira para aproveitar o feriado; comércio paralisa o dia inteiro; indústria diminui a carga horária de trabalho em decorrência da data especial... Já o jornalista não podia tirar folga, porque a televisão (essa sim!) era levada a sério e sem TV a população não podia ficar no feriadão.

Meu lusíada



Kiss - Henri De Toulouse-Lautrec

Ainda que meu organismo esteja, nesse instante, em plena batalha contra uma gripe, eu não me importaria de morrer sufocada com um beijo teu, tanto é esse o meu desejo. Tu és mais forte que esse vírus bárbaro. Não me importo se não possuo poder bélico – e imunológico – para te extirpar do cárcere voluntário em que te encontras cá dentro em Minh ‘alma.  Eu gosto desse teu espírito de invasor, como um genuíno líder do MST que desterra meu coração como se fosses tua propriedade por direito. Isso! Podes fincar tuas bandeiras revolucionárias nesse meu corpo e partir para a exploração. É desse meu desejo incongruente que quero ser explorada. Serei indígena, africana ou italiana... Tu escolhes e tu tomas conta. Apenas seja um bom explorador, um português daqueles de Camões, um herói. O meu herói!


para Cândido Sales Gomes.

Violenta obra-prima


Painting Woman 2 - Robert James Henry

Batia, sim. Mas com justificativa. Para o marido, a maior das belezas era os olhos assustados de sua esposa a chorar. O desespero preso dentro da íris daquela mulher o encantava. Por isso, as violências diárias – por amor à arte. Mas, por amor a si mesma, a esposa lutou contra o choro. Petrificou seu olhar, impedindo o mínimo brilho de lágrima de aparecer. O marido, desesperado, sem sua dose diária de fascinação, aumentou as pancadas. Mas em nada surtia efeito. Amargurado, parou de bater. Usando todo seu vandalismo, ela destruía os encantos do marido e permanecia marmórea. À medida que a bela arte plástica do homem falecia dentro da alma da mulher, esta ressuscitava.

A escritora

Evilanne Brandão de Morais. Tecnologia do Blogger.