Archive for janeiro 2016

Olhar de elogios


 Freay's tears - Gustav Klimt

O marido nunca foi homem de elogiar. Mesmo assim ela aceitou viver ao lado dele. É que havia algo mais poderoso que o elogio: o olhar dele. Todas as vezes que ela se arrumava bem, o marido a olhava de uma maneira única, um olhar cheio de paixão e admiração. Era esse olhar que a enchia de graça e que a fazia tão bem. Porém, a velhice veio e o marido acabou cego. E a mulher teve que aprender a viver sem aqueles olhares apaixonados. Permaneceu ao lado dele, por consideração a todos os anos de amor. Mas perdeu a graça de antes. Até o dia em que, nos braços da morte, o marido cego a encarou no vazio e falou: "Você é a mulher mais linda que já conheci. Nunca deixou de ser. E certamente agora você deve estar encantadora. Obrigado por me permitir viver ao seu lado". Quem ali estivesse ou por ela passasse, veria uma viúva cheia de graça, como nunca se imaginou ser possível ver.

Carcereiro de si


Igor Morski

Uma lágrima correu solitária. Mas fraca, secou na metade do seu caminho. É que o terreno que percorria era árido demais. Há tempos que não era irrigado. Aquela lágrima foi a única que conseguiu escapar e tentar socorro. Viviam lágrimas presas dentro daquele homem. Ali dentro, havia sempre um pranto farto. Mas por fora, ninguém percebia. Sem ajuda, as lágrimas sufocavam ali dentro. E se multiplicavam, aumentando mais o sufoco. Então, aquela corajosa lágrima foi a única que conseguira suplicar ajuda externa. Porém, falecida lágrima, não teve força persuasiva. Ninguém notou o lamento interno do homem. Ninguém notou o pranto por trás da máscara árida de fortaleza. Ninguém libertou as tantas lágrimas presas em cárcere. O homem continuou sufocando. Continuou sufocado.

A escritora

Evilanne Brandão de Morais. Tecnologia do Blogger.