Archive for maio 2015

Derrota solitária


Androniki - Giorgos Rorris

Esse é aquele momento em que a solidão vem e ataca. Pensou. Repousou as costas doloridas na poltrona. Buscou o sono, sua arma para tentar rebater o ataque, mas se lembrou que, há alguns meses, a insônia também tinha a atingido. Então, insone, teve que se render novamente. Sentir a dor de estar sozinha. Mais um dia a terminar assim. Sabia que esse era o preço que tinha que pagar por ter vivido daquela forma tão egoísta. As pessoas que pareciam na sua juventude tão substituíveis, tão descartáveis, agora pareciam tão fundamentais no auge dos seus cinquenta. Porém, ninguém permaneceu ao seu lado. E ela merecia aquela solidão. Por isso, não lutava mais. Deitaria e deixaria escorrer as lágrimas no rosto - sangues de mais uma derrota - até adormecer por umas poucas horas. Até acordar e viver mais um dia.

Retrato


Erasing herself 2 - Roberta Coni

"Querida, por que se vestir assim? Essas tantas maquiagens não te deixam tão bonita", a avó observava a neta se arrumar. Como resposta a esse palpite, a menina gritou "olha quem vem falar de beleza para mim, feia como a senhora é! Me deixa ser feliz, sua..." E completou o insulto listando os defeitos físicos da velha avó, antes de sair para festa. No outro dia, acordando cheia de ressaca, a neta encontra no espelho do quarto um retrato em preto e branco de uma moça que era a sua cara. Assustada com tamanha semelhança, correu até a avó pedindo explicações. "Essa sou eu, na sua idade". A moça ficou sem palavras e a avó continuou: "é só para te dizer que tome cuidado com suas palavras e seus conceitos. Se você tiver a sorte de viver o tanto que eu vivi, é muito possível que acabe tão feia como eu sou. E espero que você tenha essa sorte, não para que você pague pelo o que me disse, mas para que você aprenda que, no final, beleza pouco importa. Não construa sua felicidade com base na sua beleza, querida. Senão, quando chegar à velhice, será uma completa infeliz".

Romance



Pierre Auguste Renoir, Woman Reading

Na espera pelo ônibus de todo dia, se apaixonou pela leitora sorridente. Mas vivia amargurado pois não conseguia tirar os olhos da moça das páginas que ela levava sempre consigo. Aquele sorriso e sua leveza diante da narrativa o encantavam de tal forma que decidiu um dia chamar sua atenção. Depois de muito hesitar, iniciou uma conversa com ela. Recebeu como resposta a fisionomia mais raivosa que já vira na vida. Assustado com tamanho ódio expressado, ele percebeu que a beleza da moça só poderia ser encontrada durante suas leituras. Infelizmente não havia espaço para ele na vida dela. E ela sem um livro não seria assim tão encantadora. Decidiu não mais intervir. Porém, dedicou seu tempo a se imaginar personagem dos livros dela. Aí então, a namorou. E viveu um amor digno de um romance.

A escritora

Evilanne Brandão de Morais. Tecnologia do Blogger.