Archive for fevereiro 2016

Solidão acompanhada


Supper Time - Horace Pippin

- Como foi seu dia, filha? - Foi bom. Normal. E o seu, pai? - Trabalhando muito. Ambos olharam para a mãe, dona de casa. Não perguntaram a ela como foi seu dia, pois já sabiam que nada demais teria ocorrido por ali, já que nada demais ocorria na vida deles - que saíam de casa, entravam em contato com todo tipo de gente e situações diversas - como que seria diferente ali dentro daquela casa? E não era diferente, de fato. Ao final do jantar - que era uma repetição do almoço - pai e filha se dirigiam aos seus quartos. Davam boa noite. Fingiam educação. Fingiam se importar com que a noite do outro fosse boa. E a mãe - que ficava para trás, para limpar a sujeira e organizar a bagunça - observava todo aquele fingimento automático da rotina. Observava que, ao fecharem suas portas, eles mergulhavam nas suas solidões. E seguiam assim: sozinhos, porém acompanhados. Em quartos vizinhos. Em uma vida compartilhada. Que quase sempre não levava a nada.

Distante liberdade


TM2 - Lou Ros

Mais um dia riscado no calendário. Agora faltavam quarenta dias para ele sair daquela solitária. Estava preso, sem ter cometido nenhum crime. A pena que pagava era por amor. A prisão em que se encontrava era sentimento que vivia por estar longe dela. A distância, para ele, causava tal sentimento de prisioneiro, pois ela era sua liberdade. Não importa quantas pessoas estivessem ao seu redor ou o quão livre no mundo ele estivesse. Sem ela, se sentia sozinho demais para viver. Incompleto demais para seguir em frente. Por isso, preso dentro de si. Era uma solitária em forma de homem. Então, contava os dias para ela voltar. Em quarenta dias, voltariam seus abraços, beijos e corpo. Sua liberdade em forma de mulher. A sua redenção.

A arte de lapidar


Enveloped between a pleated thought - Tran Nguyen


Não, ela não era perfeita. Sim, de fato, isso ninguém é. Mas no caso dela, ela era cheia de imperfeições. Dessas imperfeições que fazem uma pessoa ser mal falada. Porém, ele via nela um brilho especial. Algo que não via em outra mulher. Algo que só ele conseguia enxergar. E, por isso, acabou se envolvendo com ela. Passou por muito baixos. Mas, foi valorizando cada momento alto, que transmitia boas influências para ela. Por muitas vezes, a salvou das confusões em que ela se metia. E, assim, foi construindo uma vida juntos, vida essa que ela nunca imaginou ter. Então, o brilho foi intensificando. Mas isso não foi da noite para o dia. Foram anos, ele a lapidar aquela mulher. É que ele era incansável no seu papel de lapidá-la, pois sabia que toda pedra preciosa sempre foi um dia uma pedra bruta. E só os mineradores sortudos é que têm olhos para enxergar seus brilhos especiais.

A escritora

Evilanne Brandão de Morais. Tecnologia do Blogger.