Femme aux Brás Croisés - Pablo Picasso

Durmia muito pouco. A insônia era uma inimiga antiga e companheira insistente. Naquela noite, no entanto, sentiu um absoluto peso nas pálpebras e – não pensou duas vezes – foi se entregar ao prazer do sono voluntário. Mergulhou num intenso torpor, escuridão inundou seus ouvidos e o silêncio preencheu seus olhos. Até que, em um salto, se viu em pé. Leve e sem sono, porém calma e sem a raiva por não poder dormir. Estranhou aquele estado de espírito seu, até que, ao virar-se para a cama, viu seu próprio corpo deitado e sem movimento. Assustada, observou simplesmente o fato de agora não ter mais que se preocupar com o sono: era espírito, deixara seu corpo morto e viveria agora livre dos pesadelos de permanecer acordada naquele mundo material. Aceitou sua morte e continuou, grata, rumo ao acordar eterno.