Flaming June - Frederick Leighton

Estava adormecendo e sentia isso com devoção. A sua vida era simplória demais a ponto de apenas restar-lhe a chance de dormir plenamente. Não tinha como explicar o porquê, os motivos de viver tão errantemente lhe pareciam sombrios. O fato era que, naquela sua época fajuta, mulheres viviam isoladas e viviam para nada. Sim, considerava todos os sonhos de seu pai para o seu futuro um completo ‘nada’ e não havia argumento que desconstruísse aquela sua realidade. Vivia, simplesmente. As manhãs eram pálidas, as noites escuras demais para serem descritas. Então, dormia. Tranquilamente, aqueles momentos soníferos eram o que queria da sua vida. Pois no sono não existe quem a manipule, quem a determine. Ela se determinava. Dormir era seu prazer, visto que a vida acordada era limitada demais para respirar na intensidade que ela ansiava. Dormia. Adormecida agora, sonhava.