Urban Reflections - Myles Sullivan

Queria que aquele momento tivesse trilha sonora. Arpas, flauta doce, som do vento... Mas nenhuma orquestra estava próxima, nem o tempo cooperava.  Mesmo assim, lá estava ela, sentada no banco da praça, esperando-o. Com passos leves, então, foi se aproximando. Seu coração acelerado. Haveria de dar certo seu plano. Ela era a mulher da sua vida. “Olá...”, disse sorrateiramente, sentando-se ao lado direito daquele corpo delgado que tanto ele desejava. Pôs o braço por cima dos ombros dela, sorrindo... 
Mas, de algum modo, seu sorriso murchou. O nublado do dia preencheu o calor que carregara, até pouco tempo atrás, no peito. Sem olhar para o rosto dela, percebeu que aquele nublado também a perturbava. Esquecera seu objetivo; pôs-se a refletir sobre o nada daquele instante, ao lado daquela mulher fria.
Ambos permaneceram incomuns ao tempo. Observaram o nada passar. Não haveria orquestra alguma que os retiraria daquele estado absorto da alma. Agora, mais do que nunca, eram feitos um para o outro: partilhavam na essência o poder de estarem juntos, mas sozinhos.