Teatro (Romeu e Julieta) - Tenini

Lá estava ele, e ela já previa sua fala, assim como também possuía um texto em mente. Ele começou; entonação sensitiva, olhos aguçados, movimentando-se quase pendularmente de uma perna a outra. Explicava-se. Na noite anterior, ela ficara sozinha. Na noite anterior, ela relembrou todas as outras noites anteriores que ficara sozinha, completamente a se sentir fora de cena. A imaginar cenas. Todas as manhãs, no entanto, lá estava ele a se explicar. Terminou. Ela parou, pensou como se não tivesse pensado tantas vezes antes. Depois de um profundo suspiro, dinamicamente entrou o corpo dela em movimento. Buscou a melhor expressão facial. Beijou-o no rosto e deixou claro, apenas com seu olhar teatralmente treinado: ela havia se cansado. "Acostumei-me sozinha. Desculpe, mas agora não há por quê estar acompanhada". Deixou um simples sorriso surgir no canto da boca. Fez mais uma jogada cênica: parecia estar tudo bem. Ela, porém, sabia que estava tudo mal. Ele não sabia, nunca soube como estavam as coisas.
Ela pegou o roteiro e saiu do camarim. Tinha uma peça de teatro a comandar, menos trágica, menos real que esta, então, acabada.