"A atriz de ópera"


Acordou apressada outra vez. Ainda não havia aberto os olhos para o dia, mas já percebia que  teria que esquentar rápido o leite, enquanto colocava os papéis dos trabalhos da noite e madrugada passadas na sua pasta; o leite acabaria queimando sua boca, assim como os papéis acabariam amassados. Mesmo assim, acordou. Decidiu, então, abrir os olhos. E... Não, definitivamente aquele dia não seria igual aos demais. O seu quarto gritava luzes do sol, de tamanho modo nunca antes percebido. Como nunca havia parado e observado a luz do dia? Sorriu; enfim, pôs os pés no chão gelado, muito lentamente, como se excepcionalmente aquele dia fosse único e ela não estivesse atrasada. Sorriu, dessa vez deixando sair pelos seus lábios aquele som divertido que há tempos não ouvia. Sentiu-se luz. Sentiu-se fundir ao amarelado fogo do sol que invadia seu quarto. Sentiu-se humana...