Biblioteca - Miháy Bodó

Alguns metros de livros os separavam. O olhar aguçado dele não poupava ousadias; identificava-se com os olhos pequenos e leitores daquela moça. Esta lastimava-se e, a cada parágrafo degustado do clássico de Dostoiévski em mãos, lançava um olhar sorrateiro rumo a mesa do lado. Já o rapaz segurava-se à cadeira pouco confortável do prédio público para não deixar seu corpo ir de encontro àquela bela leitora, influenciado, talvez, por um impulso a lá Raskólnikov – aquele perturbado personagem russo que o ocupava no momento.
Se ao menos soubessem que liam o mesmo romance, quem sabe se arriscariam. Mas o silêncio imposto por aquelas vastas estantes de livros os impedia... Permaneceram leitores, de frases e olhares. Frio hábito das bibliotecas do mundo que insistem em silenciar romances.