Leonid Alfremov


Saiu do metrô, sobreviveu à multidão, subiu as escadas da estação e chegou à luz natural do dia nublado. A caminhada era longa, ele bem sabia. Repetia o trajeto cotidianamente, não se lembrava desde quando, mas já era tão comum aquela hora do dia que seus pés mandavam mais em seu corpo do que sua mente. Caminhava sem ficar atento ao mundo. Respirava sem sentir emoção em viver. Havia na sua vida a sensação de passividade que todo indivíduo perfeitamente incluído no vai-e-vem da cidade tinha. No fundo, se importava com esse fato. Queria se libertar, poder viver algo intenso o suficiente que fizesse sua mente comandar seu corpo, sua consciência permanecer alerta e seu respirar tornar-se empolgante. “Mas... Ah, esqueça essa utopia!”, gritava consigo mesmo. Então, voltou-se para si, retornou o foco para os seus pés e sentiu o chuvisco do dia. Mecanicamente, abriu o guarda-chuva.
E era ocupando sua mente com sua “utopia” que deixava a vida passar sem ser vivida. Seus pés continuaram, afinal de contas, o caminho era longo.