Urban alley II


Meio dia. De tanto as casinhas serem pregadas umas nas outras, aquele horário do dia era um maná dos aromas. Quem parasse para analisar os cheiros e fedores ficaria impressionado. Aquela era a hora das crianças voltarem das creches e colégios – hora de banhá-las para o fedor do suor infantil ir se dissipando com o cheiro do sabão de coco. Era hora da refeição mais importante do dia – o almoço de um vizinho era sempre peixe, de outro era sempre carne assada e daquela senhora da esquina, sempre feijoada apimentada. E ainda, era hora do trânsito congestionar ali próximo e o vento soprava sempre para o corredor das casinhas pregadas aquele cheiro de gasolina, fedor de carbono queimado. Os moradores ociosos acumulavam o cheiro da preguiça; os moradores trabalhadores eram impregnados pelo cheiro do cansaço. Os aromas eram a marca registrada do cotidiano daquele corredor de casinhas.