Sem título - Françoise Nielly


“O que é? O que estão olhando?”. Ela sabia a resposta. Todos olhavam a raiva, expressa, clara e pulsante. A raiva feminina estampada no rosto delicado dela. Sua respiração parecia alimentada por um poço fundo de petróleo e a faísca de fogo que o seu coração forneceu foi uma chama alta e farta demais. Estava em combustão intensa. Odiava ter que admitir, mas já perdera o controle sobre a situação. E não podia fazer nada a não ser tolerar os olhares implacáveis daquela sociedade importuna.
Não! Não, não pode ser. A raiva alcançava seus níveis supremos: uma lágrima ousara sair de seu olho direito. Maldito! Sempre aquele olho fraco que se entregava primeiro. Fechou-se na escuridão da sua mente, para não ter que suportar admitir que além de fora do controle, estava fora de si. Perdeu-se na sua intriga interna. Desejou sumir.
Os transeuntes não sabiam o porquê daquela moça estar ali, na rua, com tamanha expressão de ódio. E não seria ela que contaria ao mundo o porquê. Sumiu dentro de si. Silenciou-se para bastar sua raiva gritante.