Abandonment - Ian Castruita
Ele morava na casa dos pais, sozinho. Há tempos não tinha mais a mãe para limpar a casa, nem o pai para cozinhar o feijão carioca. Teve que se adaptar à vida daquela casa solitária. Por isso, as responsabilidades agora eram suas: aquele domingo de vento era dia de arrumação. E, sem motivo aparente, foi pela despensa que começou o trabalho doméstico. Já sentia o suor na testa escorrer, quando algo caiu por cima da sua cabeça. Olhou para o chão e viu uma pipa amarela, empoeirada e com teias de aranha. Lembrou-se de quando era moleque... De como passava horas observando os meninos lá fora empinando pipas... De como foi que furtou aquela pipa, mesmo o pai não o deixando brincar com ela.
Com a pipa nas mãos, não ouviu a voz da mãe o repreendendo, nem os gritos do pai mandando-o estudar. Um sorriso faceiro brilhou no seu rosto de trinta e sete anos. Foi para fora da casa, estendeu a corda da pipa e saiu correndo. Aproveitou o domingo de vento para resgatar sua infância perdida. Por um momento, não sentiu saudades dos pais – se eles estivessem ali, iriam mandá-lo parar. O homem deixou-se guiar pelo moleque que fora banido para o fundo do seu peito. Alçou voo naquela pipa amarela, durante a tarde inteira.
Adorei o texto. Apenas acho desnecessárrio "se eles estivessem ali, iriam mandá-lo parar" (L. 12 e 13). Você já deixa isso claro quando diz "não ouviu a voz da mãe o repreendendo, nem os gritos do pai mandando-o estudar" (L. 9 e 10).
Beijo. YYBMF.
Muitos jovens deixam de viver suas infâncias a favor das repreensões dos pais, sendo que é uma época mais gratificante de se viver ^^