Girl - Nina Reznichenko

Ela amava imensamente. Acordava sorrindo, porque o amor escapava pela sua garganta e esticava os músculos do seu rosto em uma bela risada. Andava como se penetrasse na terra um pouco do amor, que pelos poros dos seus pés, escapava. Deixava o vento assanhar seus cabelos para sentir um pouco do amor acumulado nos fios pretos se desprender e voar. O amor que ela possuía, de fato, não cabia mais dentro dela. Os espaços entre as vísceras já estavam ocupados; o sangue circulava com a dificuldade de quem tem um coração amante.
Mas não morria. Nem com todos os seus órgãos emperrados pelo amor, com seus neurônios embebedados pelo amor e seus brônquios afogados pelo amor... Não morria, exclusivamente por isso: por viver pelo amor. Todo o seu corpo era para, pelo e devido ao amor.


(autobiográfico e em homenagem a Cândido Sales Gomes)