Amor e dor - Edvard Munch
O choro era baixo, mas ainda assim soava como ventania
cortante no seu espírito. A resistência de seu egoísmo era flácida diante
dele. Poderia ter todos os defeitos, mas lá se punha ela a aquecer o corpo arrependido
dele. Entregava-se ao prazer de vê-lo completamente entregue. Naqueles
momentos, era ele quem sofria. Bem sabia desse sofrimento, porém, ela não tinha
certeza de por qual motivo exato ele sofria: se por correr o risco de perdê-la
ou se por ter que voltar atrás à sua rigidez masculina e pôr-se a chorar. Eram
assim os pensamentos dela, enquanto abraçada com ele...
E eram assim os pensamentos dele, enquanto abraçado com ela:
chorar, sim! Ele sabia que só suas lágrimas seriam capazes de exprimir tamanho
sofrer. O arrepender-se pedia um esforço claro para ser justificado. Tinha que
se esforçar para deixar as lágrimas despencarem e só assim ver ela se derreter
diante de seus defeitos injustificados. O choro ocorria, pois ele tinha a
certeza de que ela voltaria atrás e o acolheria de novo. E ele seria capaz de
chorar quantas vezes fossem necessárias.