O Apple dela - David Hettinger
A luz artificial da tela do seu computador descoloria o
mundo ao seu redor. Ela não percebia. Fingia que nunca encontrara cores mais
vivazes do que as das redes sociais. Entupia horas da sua juventude com os relacionamentos
fugazes das suas tantas contas virtuais. Porém era quando a bateria do notebook
resolvia apagar as suas conexões que ela observava a vida palpável, os
relacionamentos que estavam a sua espera, as cores que somente o dia – sem nenhuma grande tecnologia – conseguia envolve-la. Eis que surge o medo em cometer erros
que não podiam ser excluídos, medo em causar aquele sofrimento que de fato faz
doer o peito, e a leva a buscar o carregador... Precisava se conectar à
superficialidade de uma vida virtual. Não podia correr o risco de viver de
verdade.
Caramba, que pintura linda! Mas não só a pintura... Gostei bastante deste conto, especialmente do trecho "eis que surge o medo em cometer erros que não podiam ser excluídos". A vida calculada da internet é, às vezes, bem mais cômoda: pessoas indesejáveis são bloqueadas, palavras são pensadas antes de ser ditas e aquilo que nos arrependemos de ter dito pode ser excluído. Na vida do outro lado da tela, em "tempo real", não há "excluir", você tem que lidar com seus erros, com pessoas e palavras que não gosta, tem que correr o risco de passar uma imagem ruim. Talvez por isso as pessoas passem tanto tempo em redes sociais, sem enxergar as cores a seu redor, como tu escreveu. Parabéns!
Exatamente isso, Beatrice! "Viver" está passando a ser programável, algo completamente fora do normal, afinal de contas os erros são tão necessários quanto os acertos... Muito obrigada pelos comentários!