Mary Jane Ansell

Não podia dizer que era uma pessoa sozinha. Tinha muitos amigos. Vivia dias movimentados. Sua cabeça estava quase sempre a mil por hora. Seus dedos, sempre teclando para a conectar ao mundo. E, de vez em quando, dormia acompanhada para satisfazer seus apetites. Mas, apesar disso tudo, não conseguia fugir daqueles momentos. Quando as notificações do celular silenciam. Quando a mente reduz a velocidade. Quando ninguém aquece sua cama. Quando nenhum amigo a recorda. E, assim, sozinha, no final de um longo dia, apenas o som do nada a rodeia. E um sentimento de grande vazio preenche seu peito. Por alguns instantes, desacelera e para de correr atrás do mundo. Nota o ser que há ali dentro de si. E sente aquela estranha sensação de que algo está errado na forma como todos estão vivendo. Pensa no porquê de todos estarmos correndo de nós mesmos. Tentando nos manter conectados a todos e ao mesmo tempo a ninguém. Fugindo para aquele fim de estarmos juntos, mas no fundo isolados. Porém, logo ela fecha os olhos. Adormece. E amanhece de novo. Para um mundo em que a solidão não tem lógica.